Festa do Cinema Italiano | Crítica | Fortunata

Os desafios de uma mãe jovem e trabalhadora, durante o árduo processo de divórcio, ganha vida nas mãos na direção de Sergio Castellito e no texto de Margaret Mazzantini com Fortunata (2017). Filme este indicado para o prêmio Un Certain Regard do Festival de Cinema de Cannes em 2017 e vencedor de Melhor Atriz, na mesma categoria.

O filme conta a história de uma mãe jovem, Fortunata (Jasmine Trinca), que, na ironia dos indícios do nome cuja tradução é "sortuda”, enfrenta os resultados de um casamento falido com um ex-marido possessivo e violento, enquanto luta diariamente pelo sonho de abrir seu próprio salão, para encontrar a independência que a enfim levaria a uma vida feliz.

O ex-marido da mulher, interpretado por Edoardo Pesce, é violento nas tentativas de reerguer um casamento perdido, inclusive forçando encontros sexuais com a ex-parceira e investindo constantemente sua presença na vida de Fortunata. Fruto de um relacionamento tóxico, a filha do casal, Barbara (Nicole Centanni), começa a apresentar manias que, possivelmente, seriam derivadas do desenvolvimento da separação dos pais e, portanto, a justiça exige que a garota comece um acompanhamento psicológico com um profissional a quem a menina logo se apega, Patrizio (Stefano Accorsi).

Num dado momento do roteiro, todos os acontecimentos mencionados se convergem e criam uma enorme situação de perdas para a protagonista que, aos poucos, perde tudo que almeja, inclusive o foco.

Essa obra continha todos os elementos possíveis para se tornar uma ode feminista: mulher trabalhadora, constantemente maltratada por um sistema essencialmente patriarcal, que procura equilibrar a busca de seus sonhos, a criação da filha pequena e sobreviver aos assédios do marido abusivo. Contudo, o que nos é entregue é uma personagem confusa e especialmente burra em diversos momentos, que perde o foco e a busca por seus objetivos por um romance.

A vida de Fortunata não é fácil: uma trabalhadora autônoma cuja vida é extremamente corrida para que consiga juntar dinheiro o suficiente para abrir a própria empresa por si só já seria desafiador. Agora, não contente com isso, a vida ainda lhe entrega uma filha complicada e geniosa que é constantemente prejudicada pela luta de poder entre ela e o marido perigoso. A mulher, nesse momento, está no limite e, portanto, encontra um porto-seguro na primeira pessoa que lhe garante uma quantidade mínima de segurança e compreensão: o psicólogo. O romance da mulher com Patrizio é quase que um choro (alto) de ajuda que é altamente mal interpretado por todas as pessoas que ela conhece.

Entre os problemas com o pai, a ausência da mãe, os amigos carentes e dependentes, a filha problemática e pirracenta e todas as outras pessoas envolvidas que definitivamente não são exemplares, a questão deixa de ser se Fortunata é boa mãe e indivíduo, mas se ela foi amada e se lhe foram dadas condições de crescer uma boa pessoa.

Não há no mundo condições da criação de um cidadão exemplar sem exemplos a altura. A protagonista definitivamente não os teve e, não coincidentemente, não consegue dá-los para a filha, apesar de manter um ótimo relacionamento com a menina. A reação de Barbara, inclusive, ao romance da mãe e do psicólogo parece deveras exagerada, tendo em vista uma pequena paixonite infantil que o roteiro permitiu que ganhasse proporções enormes.

O romance central também não é muito bem construído e falha em criar conexões com os espectadores, talvez por ele ser produto direto da falta de profissionalismo de um psicólogo aparentemente bem qualificado.

A trilha sonora misturada com a fotografia cheia de cores vibrante traz uma descontração enorme ao filme que, muitas vezes, minimiza situações extremamente dramáticas e problemáticas, como o relacionamento da protagonista com o marido – mesmo que isso também seja culpa do roteiro desconexo -, mas permite que a experiência de o assistir seja incrivelmente prazerosa.

O filme é praticamente carregado por Jasmine Trinca que, frente a todos os problemas enfrentados pela produção, cumpriu muito bem seu papel no filme e mereceu o prêmio de melhor atriz em Cannes.

Fortunata é o filme de abertura da Festa do Cinema Italiano no Brasil que, esse ano, estará em 12 capitais pelo país e começará no dia 02 de Agosto. Para saber mais sobre o Festival, como programação e preço dos ingressos, clique aqui.

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EN

The challenges of a Young working mother, during the harsh process of divorce, gains life in the hands of the director Sergio Castellito e in the script of Margaret Mazzantini with Fortunata (2017). This film was nominated to the Un Certain Regard award in the Cannes Film Festival in 2017 and won Best Actress in the same category.

The movie tells the story of a young mother, Fortunata (Jasmine Trinca), who, in the irony of her name whose meaning is “lucky), faces the results of a failed marriage with a violent and possessive ex-husband, while daily fighting for the dream of owning her own salon, to find the independence that would at least take her to a happy life.

The woman’s ex-husband, played by Edoardo Pesce, is violent in his attempts to rebuild a lost marriage, including forcing sexual encounter with the ex-partner and constantly investing his presence in Fortunata’s life. Product of a toxic relationship, the couple’s daughter, Barbara (Nicole Centanni), starts to show some obsessions that, possibly, are derivative of of the development of her parents' separation and, for that reason, Justice demands the girl to start therapy with a professional to whom she soon gets attached, Patrizio (Stefano Accorsi).

In a given moment of the script, all the previously mentioned events converge and create a huge situation of losses to the protagonist who, little by little, loses everything she was aiming for, including focus.

This work has every element needed to become a feminist piece: working woman, constantly mistreated by an essentially patriarchal system, the bringing up of her small child and surviving to the harassments from the abusive husband. However, what it’s delivered is a confused and especially dumb character that loses her focus and search for her objectives for a romance.

Fortunata’s life is not easy: a freelance worker whose life is extremely rushed so she can put together enough money to open her own company is already challenging. Now, not happy with that, life still gets her a complicated and ingenuous daughter who is constantly impaired by the power fight between her and her dangerous husband. The woman, in this moment, is on her limit and, for that reason, finds a home in the first person that guarantees her a minimal amount of safety and understanding: the therapist. Her romance with Patrizio is almost a loud cry for help that is highly misunderstood by everyone she knows.

Between problems with her father, the absence of a mother, needy and dependant friends, the problematic daughter and every single other person involved that are not exemplary, the question is not if Fortunata is a good mother and individual, but if she was ever loved and if to her were given conditions to grow into a good person.

There aren’t in the world conditions to create a model citizen without examples a pair with it. The protagonist definitely didn’t have them and, not coincidentally, cannot pass them through to her daughter, even if she does have a great relationship with the girl. Barbara’s reaction to the therapist and her mother’s romance is, including, exaggerated, given that is a childish crush that the script allowed to grow into huge proportions.

The central romance is not very well built either and fails to create connection with the viewers, perhaps because it’s a direct product of the lack of professionalism of an apparently well qualified doctor.

The soundtrack, alongside the full of bright colours cinematography, brings up a huge relaxation to the film that, many times, minimises extremely dramatic and problematic situations, such as the relationship of the lead with her husband – even though this is also the disconnected script’s fault -, but allows the experience to watch it to be incredibly joyful.

The movie is practically carried by Jasmine Trinca who, apart from every problem faced by this production, managed to deliver her part very well and deserved the Best Actress Prize in Cannes.

Fortunata is the opening film of the Festa do Cinema Italino in Brazil that, this year, will be in 12 capitals throughout the country and will start on the 2nd of August. To know more about the festival, like programming and ticket prices, click here.