CineBH | Encerramento | Benzinho

Ao longo de 75 filmes de vários lugares no mundo e 44 sessões, cujas exibições geraram encontros e debates, o décimo segundo CineBH acabou, no dia 02 de setembro. De importância internacional, a mostra envolveu seus participantes em debates sobre um passado cinematográfico e as possibilidades que o futuro guarda.

Tomando seis espaços (Palácio das Artes, Sesc Palladium, Cine Theatro Brasil Vallourec, Teatro Sesiminas, MIS Cine Santa Tereza e Praça Duque de Caxias), a mostra ocupou importantes pontos culturais e políticos da cidade de Belo Horizonte e se tornou polo de rejeição às intolerâncias vividas no cenário mundial nos últimos tempos.

Em épocas de Brexit e expulsão violenta de venezuelanos das fronteiras brasileiras, mais do que nunca, tornam-se necessárias conversas sobre o que nos unem e o porquê nos unir. O tema desse ano, “Pontes Latino-Americanas", coloca o público na posição de questionar esses acontecimentos e procurar nas soluções, principalmente dentro das cooperações audiovisuais, maneiras de sermos fortes juntos.

Os homenageados desse ano, El Pampero Cine, bem representados por Laura Citarella, colaboraram nessa discussão no que Citarella, inclusive, lecionou dentro do Brasil CineMundi, o evento mercadológico que acontece junto ao CineBH.

O grande vencedor do Brasil CineMundi esse ano, inclusive, foi "A professora de Francês" do criador, mineiro, do longa Elon Não Acredita na Morte (2016).

(Você pode ler a crítica dele aqui)

A mosta inteira passou por pequenos problemas nas exibições que poderiam ser evitados abrindo as portas das salas poucos minutos antes dos horários marcados, evitando grandes atrasos que aconteceram durante o evento. Assim como a abertura, o encerramento deveria ter sido realizado no maior local disponível, como o Cine Theatro Brasil Vallourec - talvez não o tenham feito por falta de disponibilidade, mas grande parte dos que foram ao evento ficaram de fora, por causa de espaço. Tirando isso, o evento e o encerramento correram muito bem, introduzindo ao público, inclusive, um coletivo de mulheres artistas maravilhoso.

A mostra foi encerrada com a exibição do longa Benzinho, vencedor do Festival de Gramado deste ano, cuja crítica você pode conferir abaixo.

Benzinho

Ser mulher e mãe é precisar demonstrar, constantemente, força descomunal para sobreviver as intemperes de uma vida cheia e complexa que envolve, além de um íntimo persistentemente golpeado por uma vida cheia, diversos corpos e amores para serem cuidados. É centrado na jornada pessoal dessa mulher que Benzinho, de Gustavo Pizzi –e roteirizado com a colaboração de Karine Teles -, se passa.

O longa nos introduz Irene (Karine Teles), uma mãe de classe média que se doa completamente à família, mas, principalmente, aos quatro filhos. Orgulhosa, torce, sofre e fica entusiasmada com erros e triunfos deles. Frente à possibilidade do filho mais velho, Fernando (Konstantinos Sarris), ir jogar handebol na Alemanha, a protagonista se vê envolvida num turbilhão de emoções e acontecimentos que a levam para uma jornada de crescimento pessoal.

É muito bonito enxergar em Irene, mesmo desconfortável dentro de uma situação desconhecida e assustadora, uma mulher afetuosa e amorosa que custa enxergar maldade nas pessoas e sempre procura dar chance a todos, mas não hesita em caçar justiça para os que fazem mal aos que ela ama, mesmo que isso a afete negativamente. Dona de seu destino, além de se doar à família, corre atrás de seus sonhos e busca suas próprias oportunidades, sempre questionando o impacto de suas ações na vida dos que toca.

A subtrama coloca a irmã da principal, Sônia (Adriana Esteves), na fuga de um relacionamento tóxico e abusivo, sendo acolhida por ela, assim como seu filho mais novo. Por mais que, por vezes, esse pedaço do roteiro pareça ser deslocado, ele apenas reforça a diversidade dos problemas que essa mulher comum enfrenta no dia-a-dia e precisa se apoiar em suas comuns para passar por situações difíceis. Quem mais entenderá a mulher, senão ela mesma?

É nisso que o valor de Teles no roteiro se mostra. Dificilmente se faz uma história real perfeitamente identificável como esta, se seu contexto não é esse.

A personagem de Teles é tão real e tocante que nos envolve completamente. É quase como se o espectador estivesse efetivamente vivendo aquilo com ela. Uma das cenas mais emocionantes é a de sua formatura. Que orgulho nós temos dela.

Nos incomodamos quando Irene não consegue arrumar tempo para si sem que tudo desande. Que ela não possa deixar de se preocupar com todos e pensar nela mesma, que ela tenha que gritar aos céus e fazer uma festa inusitada para espairecer, na falta de quem a ouça e compreenda. É difícil entender o que a personagem passa. Mais ainda se identificar com isso, enquanto mulher.

A fotografia e a direção trabalham juntas de forma brilhante, criando uma atmosfera real, mas, às vezes, com estética meio fantasiosa, que traz graça e leveza à obra. O uso de cores vivas e texturas rústicas (como madeira) traz certo conforto caseiro a quase todos os quadros do filme, as exceções são cenas densas de conflito – principalmente internos.

Logo nas primeiras cenas, o humor descompromissado diverte: com a fechadura quebrada, a família tem que se deslocar para dentro e fora de casa através da janela, com uma pequena escada de madeira. A verdade é que, dentro do roteiro, tudo é muito bem trabalhado: dos relacionamentos do núcleo familiar às situações completamente plausíveis dentro do contexto atual do país, como problemas financeiros.

Agora, não é possível falar do sucesso do longa sem mencionar as performances incríveis de todo o elenco. Karine Teles é a alma do filme: sua atuação como a protagonistas transmite uma Irene completamente real. Muito do poder dessa personagem vem das minúcias no olhar, gestos e expressões da atriz. Quando ela fala, então, o público é agraciado por um turbilhão de emoções no peso de cada sílaba.

Adriana Esteves está, também, incrível, assim como Otávio Müller (Klaus, o marido de Irene) e César Troncoso (Alan, o marido de Sônia). O elenco jovem também é extremamente cativante.

A dinâmica do elenco, como todo, cria um clima gostoso e agradável que permite a esperança de superação em momentos ruins a todo tempo.

Benzinho é uma obra maravilhosa sobre uma mãe que, como tantas outras, passa seus dias completamente doada a um mundo essencialmente masculino (vê-se isso, inclusive, na quantidade de homens e mulheres, incluindo as crianças), enquanto ainda procura tempo para si; para seus sonhos, escolhas e ambições. É simplesmente ótimo.

Assista ao trailer:

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EN

Throughout 75 films from various places in the world and 44 sessions, whose exhibitions generated encounters and debates, the 12th CineBH ended, on the 2nd of September. Of international importance, the show involved its participants in debates about a cinematographic past and the possibilities that the future holds.

Taking six places (Palácio das Artes, Sesc Palladium, Cine Theatro Brasil Vallourec, Teatro Sesiminas, MIS Cine Santa Tereza and Duque de Caxias Square), the show occupied important cultural and political points of the city of Belo Horizonte and became a pole of rejection to the intolerances seen worldwide in recent times.

In times of Brexit and violent expulsion of Venezuelans from the Brazilian borders, more than ever, conversations about what unite us and why we unite are necessary. This year's theme, "Latin American Bridges", places the public in a position to question these events and seek solutions, especially within audiovisual cooperation, for ways to be strong together.

This year's honored, El Pampero Cine, well represented by Laura Citarella, collaborated in this discussion in which Citarella, even, taught in Brasil CineMundi, the market event that happens next to CineBH.

The great winner of Brasil CineMundi this year, including, was "The French teacher" of the creator, from Minas Gerais, of the film Elon Não Acredita na Morte (2016).

(You can read this review here)

The whole mound went through small problems in the exhibits that could be avoided by opening the doors of the rooms a few minutes before the scheduled time, avoiding great delays that happened during the event. As well as the opening, the closure should have been held at the largest available venue, such as Cine Theatro Brasil Vallourec - maybe they did not because of lack of availability, but most of those who went to the event were left out because of space. Apart from that, the event and the closing went very well, introducing to the public, including a wonderful women's collective.

The show was closed with the screening of the long Loveling, winner of this year's Gramado Festival, whose criticism you can check below.

Loveling

To be a woman and a mother is to constantly demonstrate overwhelming strength to survive the harshness of a full and complex life that involves, in addition to an intimate persistently struck by a full life, various bodies and loves to be cared for. It is centred in the personal journey of this woman that Loveling, by Gustavo Pizzi - and scripted with the collaboration of Karine Teles -, happens.

The film introduces us to Irene (Karine Teles), a middle-class mother who completely cares for her family, but especially her four children. Proud, twists, suffers, and gets thrilled with their mistakes and triumphs. Faced with the possibility of her eldest son Fernando (Konstantinos Sarris), going to play handball in Germany, the protagonist is involved in a swirl of emotions and events that lead to a journey of personal growth.

It is very beautiful to see in Irene, even uncomfortable in an unknown and frightening situation, an affectionate and loving woman who is hard to see evil in people and always seeks to give everyone a chance, but does not hesitate to hunt justice for those who do evil to her loved ones, even if it negatively affects her. Owner of her destiny, besides giving herself to the family, runs after her dreams and seeks her own opportunities, always questioning the impact of her actions on the lives of those she touches.

The subplot puts the sister of the main character, Sônia (Adriana Esteves), in the escape of a toxic and abusive relationship, being welcomed by her, as well as her youngest son. No matter how often this piece of the script seems to be displaced, it only reinforces the diversity of problems that this ordinary woman faces in the day-to-day and needs to rely on her commonalities to get through difficult situations. Who will understand women more than themselves?

This is what Teles' worth in the script shows. It is hardly possible to make a real, perfectly identifiable story like this if its context is not your own.

Teles' character is so real and touching that it envelops us completely. It's almost as if the viewers were actually living it with her. One of the most exciting scenes is that of her graduation. We are so proud of her.

We get annoyed when Irene cannot make time for herself without everything undercutting. That she cannot stop worrying about everyone and thinking about herself, that she has to shout to the skies and have an unusual party to relax, in the absence of anyone who hears and understands. It's hard to understand what the character is going through. More to identify with this as a woman.

The cinematography and the direction work together brilliantly, creating a real atmosphere, but sometimes with a fanciful aesthetic, which brings grace and lightness to the work. The use of vivid colours and rustic textures (such as wood) brings some homely comfort to almost every picture in the film, the exceptions being dense scenes of conflict - mostly internal.

In the first scenes, uncompromising humour amuses: with the lock broken, the family has to move in and out of the house through the window, with a small wooden staircase. The truth is that in the script, everything is very well worked out: from family nucleus relationships to fully plausible situations within the current context of the country, such as financial problems.

Now, it is not possible to speak of the success of the film without mentioning the incredible performances of the whole cast. Karine Teles is the soul of the film: her acting as the protagonists conveys a completely real Irene. Much of the power of this character comes from the minutiae in the actress' gaze, gestures, and expressions. When she speaks, then, the audience is graced by a swirl of emotions in the weight of each syllable. Adriana Esteves is also amazing, as are Otávio Müller (Irene's husband, Klaus) and César Troncoso (Alan, Sônia's husband). The young cast is also extremely catchy.

The dynamics of the cast, like everything else, creates a pleasant climate that allows the hope of overcoming in bad moments at all times.

Loveling is a wonderful work about a mother who, like so many others, spends her days completely donated to an essentially masculine world (you can see this, in the amount of men and women, including children), while still looking for time for herself; for her dreams, choices and ambitions. It's just great.

Watch the trailer above.