CineBH | Crítica | Abaixo a Gravidade

A frase, gritada inicialmente em "Superoutro" (1989), repetida em "O Homem que Não Dormia" (2011), dessa vez assume lugar de título do novo filme de Edgar Navarro. Exibido pela primeira vez no 50º Festival de Brasília, "Abaixo a Gravidade" chega agora como parte da Mostra CineBH, antes de estrear em circuito nacional.

Inicialmente, Bené (Everaldo Pontes) encontra-se isolado no campo, alimentando-se de legumes orgânicos, praticando meditação e ioga, imerso em rezas e rituais de exorcismo baseados em religiões africanas. A chegada de Letícia (Rita Carelli) desperta nele sentimentos e desejos. Sentindo o corpo começar a falhar, decide voltar com ela à cidade grande para se tratar e explorar sua paixão, mas como ela o enxerga apenas como uma figura paterna, logo se separam.

O filme então desloca-se para a paisagem urbana de Salvador, uma personagem marcante , retratada por Edgar com todas suas contradições. Assume ares políticos quando trata da desigualdade, como quando coloca um mendigo dormindo sob uma placa publicitária vendendo "seu sonho de moradia" ou quando mostra as dificuldades de se obter tratamento médico.

À medida em que vaga pelas ruas de Salvador, Bené encontra várias figuras pitorescas, e a obra vai cada vez mais flertando com o surreal e o fantástico. Todas as personagens, esmagadas pela gravidade de seus corpos e de suas mentes, buscam fugir, livrar-se daquele peso e, pelo menos em um caso específico, um voo literal.

O filme é cheio de dualidades e contrapontos, vai desde o rural e urbano, o carnal e o espiritual, o racional e o espiritual. Edgar convida o espectador, muito explicitamente, a abandonar essa racionalidade e impulsionar-se para cima.

Esse delírio funciona muito bem, em grande parte por causa do elenco. O mendigo boca-suja Galego, do genial Ramon Vane, o animalizado morador de rua de Fábio Vidal, que não fala, apenas grasna e grita enquanto olha para os céus e revira o lixo para construir asas. Até mesmo o deslocado personagem de Betrand Duarte, um cidadão de classe alta com um ego enorme, encara essa metáfora da gravidade, da necessidade de se libertar das normas da sociedade.

Com uma narrativa envolvente, fluida, planos sempre repletos de movimento e muitas referências visuais a obras de mestres como Fellini, Pasollini e Lars von Trier, "Abaixo a Gravidade" é um filme intenso e contestador, buscando provocar o espectador a desafiar as forças que nos puxam para baixo, sonhar e acreditar na possível existência de uma felicidade, mesmo que nas pequenas e simples coisas.

Abaixo, o trailer:

O CineBH vai até o dia 02/09! Para ter mais informações sobre a programação, basta acessar o link: http://cinebh.com.br/

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EN

The phrase, firstly profered in "Superoutro" (1989), repeated in "O Homem que Não Dormia (2011), here gains space as the title of the new movie by Edgar Navarro. Exhibited for the first time at the 50th Brasília's Festival, "Abaixo a Gravidade" (Down with Gravity) is shown at CineBH, before its release on national circuit.

In the beggining, Bené (Everaldo Pontes) finds himself isolated in the countryside, eating organic vegetables, practicing meditation and yoga, imerse in prayers and exorcism rituals from african-based religions. With the arrival of Letícia (Rita Carelli), feeling and desires begin to arise anew. Feeling his body starting to fail him, he decides to come back with her to the big city, in order to get treatment and explor his passion, but since she sees him only as a father figure, they soon break up.

The movie than relocates to the urbanscape of Salvador, one central character, showed by Edgar with all its contradictions. Gains political meaning when explores the inequality, like when it shows a beggar sleeping under a sign advertising "your dream home", or when it shows the difficulties to get medical treatment.

As he wanders through the streets os Salvador, Bené meets severeal picturesque characters, and the movie increasingly begin to flirt with surrealism and the fantastic. All characters, crushed by the gravity of their bodies and mind, seek to escape, free themselves from that weight and, at least in one specific case, a literal flight.

The film is full of dualities and counterpoints, ranging from the rural and urban, the carnal and the spiritual, the rational and the spiritual. Edgar invites the viewer, very explicitly, to abandon this rationality and propel himself up.

This delirium works very well, largely because of the cast. The mouth-watering beggar of the brilliant Ramon Vane, the animalized street-dweller of Fabio Vidal, who does not speak, only shouts and screams as he looks up to the sky and scavenge

garbage to build wings. Even the dislocated character of Betrand Duarte, a high-class citizen with a huge ego, faces this metaphor of gravity, of the need to break free from the norms of society.

With an engaging, fluid narrative, plans full of movement and many visual references to works by masters such as Fellini, Pasollini and Lars von Trier, "Down with Gravity" is an intense and contentious film, trying to provoke the viewer to challenge the forces that pull us down, to dream and to believe in the possible existence of happiness, even in small and simple things.

Watch the teaser above, in the end of the Portuguese text section.

CineBH goes on until the 2nd of September! For more information on the schedule, please access the link: http://cinebh.com.br/